“Entre a Dor e a Gratidão”

Soltar é aprender a amar
Sem prender, sem cobrar, sem segurar.
É sentir a dor que rasga o peito,
E, mesmo assim, desejar o bem do outro.

É olhar alguém se afastar
E sentir o coração apertar,
Mas saber que amor verdadeiro
Não é prisão, não é posse.

É guardar cada lembrança
Como se fossem estrelas dentro da alma,
Brilhando mesmo na noite mais escura,
Cada riso, cada abraço, cada olhar
Se tornando eterno dentro de nós.

Amar é deixar ir,
Mesmo quando dói, mesmo quando tudo quer segurar.
É aceitar que nem sempre podemos escolher
Quem fica, quem parte, quem volta.

É sentir a saudade que corta,
O vazio que parece não ter fim,
Mas ainda assim sorrir por dentro,
Grato por ter vivido, por ter amado,
Por cada instante que deixou marcas no coração.

É entender que o amor não precisa de presença constante,
Que ele pode existir em silêncio,
No respeito, na liberdade, na confiança.
E mesmo longe, ele permanece,
Forte, puro, infinito.

Soltar é amar com coragem,
É aceitar que algumas mãos não podem ser seguras,
Alguns caminhos não podem ser guiados,
E que a beleza do amor está também
Em saber deixar ir.

Ontem eu pressenti o silêncio,
o jeito que ela dizia sem falar,
“te aviso”, e eu soube que era o caminho
que eu deveria seguir.

A entrevista cancelada, remarcada,
uma volta à noite depois do sono das crianças,
cada passo, cada gesto,
um abraço que parecia pedir desculpas,
um carinho que falava sem palavras.

Conforme caminhávamos,
o tempo juntos parecia diminuir a cada passo,
mas, ao mesmo tempo, eu estava feliz
por estar ali, com ela, naquele instante.

Ela contava suas histórias,
falava da vida, do que pensava,
e enfim disse: “tomei uma decisão”.
Eu tentei outros caminhos,
mas ela já havia escolhido
a solidão que acredita ser melhor.

E mesmo na dor, havia carinho,
abraços apertados, sorrisos tristes,
as lembranças, o cheiro dela,
o abraço dizendo “te amo”,
o último gesto que parecia despedida.

Ela disse: “Se for para ser sua,
a gente se encontra lá na frente”.
Mas o lá na frente é incerto,
e eu só posso guardar
o tempo que tivemos juntos
como quem segura um instante
que não quer deixar escapar.

No fundo, fico feliz por ter existido,
por cada instante que encaixou,
e agora, resta esperar,
guardar a saudade e a certeza
de que fomos mais que nós mesmos.

Se me encontrasse com Deus

Lhe diria baixinho:
Senhor, o que é esse caminho
Que me coloca entre o medo e o querer,
Entre a vontade de ir
E o receio de perder?

Perguntaria também
Por que é que o amor chega assim,
Tão forte, tão bonito, tão certo,
E mesmo perto parece frágil,
Como se fosse vento,
Como se fosse jardim.

Diria a Deus que tem uma mulher
Que ilumina meus dias,
Que me faz sorrir por ter a família dela,
Que me ensina o que é amor de verdade.
E se isso não for amor, meu Deus,
Então me ensine o que é amar.

Mas perguntaria ainda
Por que a gente sofre na espera,
Por que o coração dispara,
Por que a gente erra
Mesmo querendo acertar?

E talvez Ele sorrisse,
Como quem sabe de tudo,
E me diria em silêncio:
“Filho, o amor é isso mesmo,
É cruz, é laço, é fardo e é mundo.
Segue firme, que Eu vou te guiar.”

Eu sou meu próprio câncer

sou um câncer em mim mesmo
cresço pra dentro
me devoro por dentro quando sinto

eu odeio o amor
eu odeio o amor
eu odeio amar

porque amar em mim é faca sem cabo
é corte sem cura
é mar revolto onde eu sempre afundo

não é que eu não queira
é que amar me pesa
me consome
me apaga aos poucos
até sobrar só eu
e esse eco de mim
que já não sei se é dor
ou só silêncio

Quando o Amor aperta o peito

às vezes eu fico pensando como o amor chega sem pedir licença

um dia você tá tranquilo, vivendo sua rotina, e de repente alguém entra na sua vida e muda tudo

muda o jeito que você enxerga a manhã, muda o peso do silêncio, muda até a forma como você respira

e aí você se vê fazendo planos, sonhando acordado, acreditando que finalmente encontrou o lugar onde seu coração pode descansar

porque quando a gente se sente em casa em alguém, é diferente, é forte, é real

só que o amor não é só flores, ele também carrega o peso das escolhas, dos medos, das feridas do passado

é estranho quando você ama tanto que sente o coração apertar de medo de perder

quando você se entrega por inteiro e percebe que talvez o outro ainda esteja dividido entre o que sente e o que viveu

e você tenta ser forte, mas por dentro tá em pedaços

mesmo assim, eu não consigo deixar de acreditar que vale a pena

vale a pena cada riso, cada abraço, cada momento que faz a vida ter sentido

mesmo que doa, mesmo que aperte, mesmo que o destino não queira que seja pra sempre

porque amar de verdade é isso

é se jogar mesmo sabendo do risco

é se doar mesmo sabendo que pode não voltar

é sentir que, mesmo que tudo acabe, aquele sentimento já fez a vida ser maior

e talvez o que fique é a certeza de que eu amei de verdade

sem medidas, sem freio, sem vergonha

e no fim das contas, é isso que eu levo comigo

— Petterson